A RENÚNCIA DA POLÍTICA
Muito se fala no afastamento dos cidadãos em relação à política e à classe que a representa. A maioria culpa os próprios políticos e infelizmente sou obrigado a dar-lhes razão. Veja-se o exemplo de em apenas uma freguesia (Leça da Palmeira), dois deputados (eleitos em listas diferentes), após não terem conseguido pelo voto os seus intentos, aliaram-se aos que anteriormente foram alvo da sua crítica severa revelando que a falta de carácter aliada a uma desmedida vontade de poder é tal, que para o atingir tudo seja possível, mesmo esquecer tudo o que anteriormente tenha sido afirmado e prometido de forma tão contundente.
É caricato ouvir alguém dizer que acima da sua vontade está a vontade do povo e é com esse espírito de dedicação que estão a dar a cara. A mesma cara que após a derrota, e contra a vontade da maioria dos que não os elegeram se apressam em transfigurar num acto que se pode justificar como sendo de bipolaridade selectiva.
Chega-se mesmo ao cúmulo em que a sede de poder/necessidade leva a que um candidato (de uma integridade acima de qualquer suspeita) e após também não ter conseguido atingir os seus objectivos nas urnas, se transformasse num defensor do mesmo programa que dias antes era horrendo. Evidentemente que mudar poderá ser um sinal de evolução, mas que um pelouro executivo ajuda sempre a essa mudança, isso ajuda. Claro que há quem se defenda utilizando o ditado popular “ só os burros é que não mudam”… e aí eu concordo plenamente porque mudar é uma atitude inteligente quando associada a qualquer evolução. O problema é que há quem utilize o ditado equídeo para subverter a palavra “mudança” dando assim origem a um novo ditado muito parecido mas mais esclarecedor… “só os burros é que não percebem a mudança”!!!
Estes são uns dos exemplos que levam os eleitores cada vez mais a não comparecer na escolha livre e democrática que deveriam exercer e que tanto custou a conseguir com prejuízo grave para muitos. É por estas atitudes que cada vez mais dizem que não vale a pena votar nem escolher um determinado partido ou candidato, porque depois das eleições todos se juntam para redistribuir aquilo que cada um arrecadou, de acordo com a conveniência individual e não em conformidade com a vontade de quem os elegeu.
Assim e para todos aqueles que partilham desta desilusão, permitam-me uma palavra de alento… felizmente ainda há muitos que se mantêm fieis aos seu princípios e mesmo não vencendo pela legítima vontade do povo, continuam a fazer o melhor que podem (ou deixam), em prol daquilo em que acreditam, mantendo-se firmes e verdadeiros nos compromissos que assumiram.
A liberdade democrática de que gozamos – mas que nem sempre a valorizamos – deverá ser para todos um bem inestimável, e a melhor forma de honrarmos todos aqueles que nela acreditaram e por ela lutaram, é na altura de se escolher os eleitos, penalizarmos aqueles que defraudam e desvirtuam a livre vontade do povo.
Lino Curval
(Vogal da CPS do PSD de Matosinhos)